quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Paradoxos

Paradoxos
Se a contradição for o pulmão da história, o paradoxo dever・ser, penso
eu, o espelho que a histia usa para debochar de n. Nem o prrio filho de Deus
salvou-se do paradoxo. Ele escolheu, para nascer, um deserto subtropical onde
jamais nevou, mas a neve se converteu num s匇bolo universal do Natal desde que a
Europa decidiu europeizar Jesus. E para mais inri, o nascimento de Jesus ・ hoje m
dia, o negio que mais dinheiro d・aos mercadores que Jesus tinha expulsado do
templo.
Napole縊 Bonaparte, o mais franc黌 dos franceses, n縊 era franc黌. N縊
era russo Josef St疝in, o mais russo dos russos; e o mais alem縊 dos alem綟s, Adolf
Hitler, tinha nascido na チustria. Margherita Sarfatti, a mulher mais amada pelo
anti-semita Mussolini, era judia. Jos・Carlos Mari疸egui, o mais marxista dos
marxistas latino-mericanos, acreditava fervorosamente em Deus. O Che Guevara
tinha sido declarado completamente incapaz para a vida militar pelo ex駻cito
argentino.
Das m縊s de um escultor chamado Aleijadinho, que era o mais feio dos
brasileiros, nasceram as mais altas formosuras do Brasil. Os negros norteamericanos,
os mais oprimidos, criaram o jazz, que ・a mais livre das m俍icas. No
fundo de um c疵cere foi concebido o Dom Quixote, o mais andante dos cavaleiros. E
c伹ulo dos paradoxos, Dom Quixote nunca disse sua frase mais c駘ebre. Nunca
disse: Ladram, Sancho, sinal que cavalgamos.
"Acho que voc・est・meio nervosa", diz o hist駻ico. "Te odeio", diz a
apaixonada. "N縊 haver・desvaloriza鈬o", diz, na v駸pera da desvaloriza鈬o, o
ministro da Economia. "Os militares respeitam a Constitui鈬o", diz, na v駸pera do
golpe de Estado, o ministro da Defesa.
Em sua guerra contra a revolu鈬o sandinista, o governo dos Estados
Unidos coincidia, paradoxalmente, com o Partido Comunista da Nicar疊ua. E
paradoxais foram, enfim, as barricadas sandinistas durante a ditadura de Somoza:
as barricadas, que fechavam as ruas, abriam o caminho.